Capítulo 4

POV Luan.

Quando abri os olhos o quarto ainda estava escuro. Mas nem parecia que havia dormido. Sonhei muito com Natália e a criança aquela noite e me levantei procurando o celular em busca da hora. Já era de tarde, e percebi que não encontrei Natália no quarto. Desci a procurando também pela casa, mas não encontrei. Havia um bilhete na geladeira, avisando que meu almoço estava no microondas e que ela havia ido ao shopping. Esquentei a comida que ela havia deixado já no pranto da maneira que eu gostava e comi pensativo. Logo depois de escovar os dentes peguei o celular e disquei os números do Dudu. 

- Boi, tudo bem? 

- Oi boi. - Respondi. - Tudo. Sabe por to ligando? 

- Musica? - Ele riu. 

- Não dessa vez! Eu preciso perguntar uma coisa. 

- Pode fala cara.

- Sobre aquele dia...

- Que dia?

- Que a Natália perdeu a criança. 

- O que tem?

- Olha, qualquer coisa, você já sabe não sabe? 

- Já te disse que não precisa se preocupar, a qualquer efeito você estava no estúdio comigo compondo. Certo? 

- Isso, por favor! 

- Relaxa, já te disse isso. E eu não acredito que o assunto vai voltar, mas vou te acobertar. 

- Mas e se a Bel falar que vocês estavam juntos? 

- Ela não vai falar. Segredo nosso, relaxa. Você está muito tenso. 

- Está chegando o aniversario. Você sabe como eu fico nessa época. 

- Vai ficar tudo certo. Semana que vem é Natal. Não esquece o presente da sua mulher. 

- Eu nem tinha pensado nisso. 

- Justamente por isso to avisando. Eu sei que você nem gosta dela, mas sua família não sabe, não esquece. 

- Vou viajar amanha e compro. Obrigado.

Conversamos sobre algumas músicas e depois desliguei. Estava indo pra sala assistir TV quando Natália chegou. Ela entrou na sala cheia de sacolas e sorriu pra mim. 

- Bom dia. Comeu? 

- Comi, pra que tanta coisa? 

- Presentes de Natal. Depois leva pro escritório pra mim, pra não ficar aqui. 

- E o Natal? 

- Sua mãe ligou, eu disse que ficaríamos em casa, mas ela insistiu e vamos pra Londrina com seus pais, com Bruna e sua família de Campo Grande. 

- Entendi. Eu to com saudades deles, mas eu realmente queria ficar. 

- Eu sei, mas eu não quero passar o Natal chorando mais uma vez. - Ele disse sentando próxima a mim e vi seus olhos enchendo de lagrimas. 

- É por isso que nós vamos. - Sorri pra ela e levantei, desligando a TV e beijando sua testa ao subir com as sacolas dela pro escritório.

POV Natália.

Desde que acordei aquele dia no hospital, dois Natais atrás, com Luan ao lado da cama chorando e me dizendo que nosso menino havia morrido, eu não tinha um Natal. Me lembrava daquela manhã como hoje. Acordei sem saber onde estava, com Luan chorando e me pedindo desculpas, alegando que estava compondo no VIP e não tinha visto as ligações, e que agora meu menino estava morto. Fui muito difícil, e ainda é. Sempre lembro do meu bebe, mas Deus me confortou, e eu consegui me erguer, sozinha, pois Luan se isolou na própria dor por algum tempo. 

Agora eu queria um Natal alegre, pra lembrar do meu bebe como o anjo que ele foi. Pensei também na minha família, sentia saudades, queria vê-los. Já fazia mais de dois anos que não os encontrava. Minha família católica fervorosa não aceito a gravidez precoce e não me apoiaram. Tive o tempo de procurar Luan e arrumar minhas coisas. Com 17 anos não tive muito o que fazer e Luan não teve escolha a não ser me trazer pra viver com ele, me fazendo muitas promessas ao me ver chorar por toda aquela confusão. Nada foi fácil naquela época, assim como nada é fácil hoje.

Naquela noite, Luan saiu, dizendo que ia trabalhar no estúdio, para não espera-lo. Já acostumada, não tardei a dormir, mas fui acordada com barulhos no quarto. 

- Luan... - Chamei assustada. - Luan, é você?

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